“É preciso sempre pensar conjuntamente a produção do conhecimento científico e a atuação profissional” – Gerson Tomanari, diretor do Instituto de Psicologia da USP

O Prêmio César Ades me fez lembrar o César nos últimos momentos que estivemos juntos em que ele me dizia, nós estávamos comentando o evento que ele havia promovido quando era diretor do IEA e ele me diz que para pensar o futuro da Psicologia seria importante que nós criássemos Fóruns em que as pessoas pudessem falar livremente, pensar livremente, com o mínimo de censura para que nós pudéssemos deixar a criatividade aflorar.

Como diretor recém-empossado na Psicologia, tive a infelicidade de assumir o cargo logo após a perda do César. Na verdade o dia em que nós faríamos um debate no Instituto de Psicologia em que ele seria o coordenador para promover entre os candidatos a diretor um debate público de ideias para a nova direção, foi quando soubemos do acidente naquela manhã.

Eu estava em casa me preparando para sair. Então, todo o processo de transição da direção foi um processo muito marcado por um lado pela perda do César, mas por outro lado pelo resgate. Isso foi muito transmitido por amigos de coração, que diziam que a gestão do IP-USP devia ser uma gestão que resgatasse princípios e formas de agir e de pensar do César. Eu como diretor recém-empossado trago em mim sempre lembranças e pensamentos de que o que o César faria nesse momento.

O que o César faria se ele tivesse isso que eu tenho que decidir hoje? Como ele agiria, como o César congregaria isso? Uma das lembranças que tenho do César como diretor foi numa das greves que ocorreu na USP e havia uma manifestação, alunos, professores reunidos, discutindo a situação da greve, o que fazer, o que não fazer, o César foi a eles e nãos e sentou numa mesa, ele sentou no jardim, na grama, fizeram uma grande roda e vamos conversar sobre o que está acontecendo, por que fazer greve, o que está nos levando a essa situação e acalentou, acalmou a situação, congregou, integrou as pessoas ao diálogo.

Esse é um exemplo que eu já estou prevendo em momentos difíceis a fazer. A buscar o diálogo, a buscar, a congregar, buscar congregar as pessoas a trocarem ideias e a serem criativas. Eu queria nesse pequeno tempo que eu tenho, esse pouco tempo que eu tenho, eu queria de alguma forma, aos familiares, aos amigos trazer um pouco como era o César na instituição, como era o César na sua vida profissional, ele, todos sabemos, ele era muito dedicado à USP, à Psicologia, manhã, tarde e noite o César era ligado emocionalmente, fisicamente no instituto.

Eu fui aluno do César e o meu primeiro trabalho em Congresso foi oriundo de uma disciplina que eu cursei com ele, de experimentação e que ele fez o que Gabriela descreve. Numa reunião na SBPC César primeiro incentivou que nós estudássemos e não sei se consigo descrever, mas o processo dele de envolver e motivar e incentivar a criatividade e as ideias dos alunos para chegarem enquadrados em modelos científicos e experimentais de pensamento, de execução, conseguir chegar a uma produção científica original.

Nós fazíamos a disciplina no primeiro ano do curso, em Psicologia Experimental II, esse era o nome da disciplina e ele promoveu isso no grupo e ainda incentivou no final que nós levássemos numa reunião anual da SBPC. Foi minha primeira experiência em fazer pesquisa científica de laboratório, foi minha primeira experiência num Congresso científico e eu devo em grande parte estar aqui hoje a essa experiência naquele primeiro ano de graduação.

Então, sou muito grato ao César e muito orgulhoso de ter sido aluno dele e ter podido, ter tido essa oportunidade. E vocês sabem, como diretor, o César foi diretor do Instituto de Psicologia numa época difícil interna do Instituto porque estava em discussão a reformulação curricular e eu era o coordenador do curso na ocasião. Então, nós vivíamos e eu era o coordenador do curso na ocasião. Então, nós vivíamos juntos, os quatro anos de gestão, ele como diretor e eu como coordenador do curso, portanto, num diálogo muito próximo e vocês não imaginam o quanto eu aprendi com o César nessa situação.

É uma instituição grande, é um instituto grande, com quatro departamentos e acomodar uma estrutura curricular que dê conta suficientemente dos ensejos desse grupo grande é muito difícil e vocês… E eu vi no dia a dia como o César ajudava a compor a equipe, a compor o grupo para integrar e para fazer com que a gente pudesse chegar a uma reformulação curricular. E foi o que aconteceu. Então, foi uma experiência incrível e eu queria dizer com isso, trazer para vocês a unanimidade que é o César no Instituto.

O César entre alunos, entre funcionários, entre professores, entre os departamentos, o César no Instituto de Psicologia unanimidade e posso garantir para vocês na Universidade como um todo. Aliás não devia ser uma descoberta para mim, mas acabou sendo, idiota que eu sou, por conta do falecimento do César aflorou de uma forma muito evidente como ele era querido e admirado por toda a Universidade.

Queria só agradecer muito a oportunidade de estar aqui e parabenizar o Conselho Federal de Psicologia por essa iniciativa, a iniciativa do Prêmio, e que nos honra muito pensar que César dedicou sua vida profissional fundamentalmente ali no Instituto de Psicologia e hoje é lembrado pelo profissional da Psicologia no País todo por esse Prêmio.

Acho que essa oportunidade é ímpar, o César, como eu disse, era uma pessoa da integração e ele era um defensor, um promotor de situações e que nós pudéssemos sempre pensar conjuntamente a produção do conhecimento científico e a atuação profissional, as atividades de extensão na Universidade, o ensino, a formação.

O César era o integrador e eu acho que lembrá-lo nesse momento em que nós precisamos fortalecer continuamente a Psicologia no País, acho que é muito importante. Temos visto situações em que os limites do que define Psicologia como ciência são colocados em risco, não alargados, estão em discussão e lembrar da forma como o César pensava, com rigor científico e tentando buscar uma identidade para a Psicologia como ciência, na interlocução com a profissão, acho que isso é um legado que nós devemos trazer conosco e a iniciativa do Conselho acho que é fortalecer, pavimentar essa estrada que a gente tem que seguir.

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